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Conversa de Mãe + Elisama Santos: a Comunicação com Afeto vai ajudar você a educar melhor

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A segunda live do projeto Conversa de Mãe foi incrível! Você conseguiu assistir ao vivo? Comandada por Chris Flores, a conversa com a psicanalista Elisama Santos trouxe conteúdo importante para pais atentos, que amam seus filhos e querem trazer para dentro de casa uma educação atualizada. Ou seja: com limites, mas menos rígida do que a educação tradicional.

O tema da live, Comunicação com Afeto, é especialidade de Elisama, que é psicanalista e educadora parental, autora de livros de maternidade e educação (Educação Não Violenta e Por que Gritamos?, da Editora Record). Ela é mãe do Miguel e da Helena. 

Chis começou a live perguntando sobre a culpa que toda mãe sente quando, por exemplo, perde a paciência com os filhos. Elisama chamou a atenção para o fato de que as mães precisam reconhecer o erro, mas devem sair da culpa. Ao contrário, podem ser gentis consigo mesmas ao enxergar o quanto têm sido capazes de realizar neste momento. 

Afinal, para que cuidem bem de seus filhos, elas precisam ser cuidadas também. E precisam se cuidar, encontrando o momento certo de parar, de respirar. Isso tem tudo a ver com limites, já parou para pensar?

Limite: aí é que tá… 

Elisama explica que a educação tradicional era focada no limite dos pais: os filhos sabiam até onde podiam ir para não irritá-los. E não podiam dizer não, nem discordar.

O problema é que essa educação baseada na obediência não ensina as crianças a conhecer os próprios limites. Assim, elas crescem e se tornam pais e mães que não percebem quais os sentimentos que estão incomodando e precisando de atenção, ou se precisam apenas descansar. É aí que nasce o grito. 

Como reconhecer os limites? 

A boa notícia é que é possível aprender sobre os próprios limites. Comece a prestar atenção nos seus sentimentos, nos seus pensamentos e nos sinais do corpo, como cansaço, sono, coração acelerado, músculo tenso, garganta seca. 

Reconheça também que mãe não é feita só de amor. “Se vejo que as minhas dores e o meu estresse são maiores do que o amor, melhor me afastar”, diz a psicanalista. Se não houver perigo no ambiente para as crianças, retire-se um pouco para respirar e cuide de si mesma.

E a criança, como se sente?

Falando em filhos, como os seus reagem à sua falta de paciência? “Criança é ótima observadora, mas péssima intérprete. Ela sempre acha que a culpa é dela”, alerta Elisama. 

Traumas leves ou graves podem atingir uma criança que recebe um tratamento muito rígido, com ofensas ou até pior: palmadas. Ela pode crescer tratando todos mal, apresentando comportamento difícil na escola, ou ficar cabisbaixa, perder a confiança em si mesma, sem entender seus limites e, por esses motivos, mais sujeita a entrar em relações abusivas – pois amor e violência não deveriam andar juntos.

A educadora acredita na capacidade do ser humano de superar e de se reinventar. E de curar as suas feridas e transformar as suas atitudes, ou seja: além de reverter o trauma, não reproduzir a educação que recebeu com os próprios filhos. Você não pode garantir que seu filho vá superá-las, certo? Então melhor evitar desde cedo.

A curiosidade é uma ótima aliada

Crescemos ouvindo que não seremos amados se nos comportamos de determinada maneira. Também ouvimos frases como “a curiosidade matou o gato”. Essas falas espaçadas nos ensinam que não somos bons o suficiente, e que a curiosidade é ruim. 

Mas é o contrário. Somos bons – apenas precisamos nos conhecer melhor. E a curiosidade é essencial para isso. 

Use a curiosidade para se perguntar, antes ou na hora da raiva, o que pode estar acontecendo com você ou com o seu filho. O que a criança está comunicando com o comportamento dela? Aconteceu algo na escola? Ela viu algum vilão no desenho, ficou assustada, não sabe bem como explicar esse sentimento?

E você, o que anda te incomodando? O que doía em você para ter gritado? “Essa pergunta faz a gente entender quem é. Meu convite é: retomemos a nossa curiosidade. A gente é muito legal! Mas se a gente não ouve a nossa dor, não aprende a cuidar dela. Ela se acumula, e uma hora estoura”, conclui.

Quem decide se o choro é válido?

Outro ponto importante é observar se você tenta calar o choro do seu filho. Será que você também foi ensinada a calar o seu choro?

A educadora usa uma cena do filme Frozen – uma aventura congelante para dar um bom exemplo sobre como somos ensinados a ser fortes a qualquer custo. Elsa não consegue controlar o poder de congelar, que sai da sua mão, e precisa vestir uma luva. Nesse momento, a personagem canta: “encobrir, não sentir”.

“Aprendemos a fazer isso com a nossa dor, nossa frustração, nossa tristeza. Você chorava porque seu brinquedo desmontava e um adulto logo dizia: ‘não precisa chorar, olha aqui, já até montei de novo, chega’. Ou pior: diziam ‘quer um motivo de verdade para chorar?’.

E assim aprendemos com a educação tradicional que o nosso choro era indevido, e que não deveríamos sentir frustração, tristeza e dor. O resultado? Crescemos calando o próprio choro, dizendo frases duras a si mesmas como “Bem feito! Você merece mesmo, né?”.

DICA: acolha, e acolha-se

Calar o choro cria um processo de desconexão com os sentimentos. Ou seja: deixamos de sentir, mas a dor continua existindo dentro de nós. 

“Percebi com as crianças que há um ciclo no choro. Ela chora, chora, e uma hora suspira e segue em frente. Quando eu era pequena, tinha que parar de chorar ainda soluçando. Hoje a criança pode ter o direito de chorar até suspirar e se sentir forte e aliviada para seguir em frente”.

Então aproveite para deixar chorar, e chorar também. Acolha, e se acolha também. Dê a você ou ao seu filho um abraço quentinho no lugar de culpar (ou de se culpar) quando algo dá errado. 

Depois da explosão vem a culpa

Como mães e pais, percebemos o que realmente fizemos só depois do que passou. Sentimos culpa, e nos perguntamos “como fui capaz”? Mas não fazemos assim com nossos amigos, nosso chefe. Com a criança, porém, achamos que temos essa liberdade. E isso não é justo, concorda?

Perder a paciência, explodir, sentir culpa, se julgar. E começar tudo de novo. A educação tradicional obedece sempre a esse mesmo ciclo. 

“A teoria da Comunicação com Afeto começa por enxergar a criança como um indivíduo, e não um projeto, uma extensão de mim, uma posse. Ao vê-la como uma pessoa única, eu a respeito”, ensina a educadora parental. “Com ela, reconhecemos que cada um merece amor, carinho e respeito por ser quem é”, completa.

Mas como dar limites para a criança, então? Com firmeza, mas com gentileza. “O limite dá suporte para a criança, deixa-a segura. Isso não quer dizer que ela vai gostar, ou entender. E tudo bem. Vou ter uma conversa respeitosa, reconhecendo o sentimento dela, sem permitir comportamentos como bater, por exemplo. Mas vou sustentar o meu ‘não’ mesmo assim”, ensina.

DICA: revise as regras da casa

Muitas vezes, ficamos presas a algumas regras que nos foram passadas, e as reproduzimos em casa sem nem mesmo acreditar nelas. Isso gera estresse, discussão e briga. 

“Note que as pessoas que ficam falando pra gente como devemos fazer com os nossos filhos são sempre aquelas que não têm uma boa relação com o próprio filho”, diz Elisama. 

Faça um exercício para descobrir quais são as regras que existiam na sua infância e que causaram sofrimento – será que você está reproduzindo as mesmas? Pense nas quais pode adequar à sua família. Isso vai trazer mais tranquilidade. “Se estou alinhada com o que acredito, faço as minhas próprias regras”, diz a convidada da live. 

É hora de revisar os “tem que” e os “não pode”. E de ser respeitoso com a criança.

“A gente se incomoda com a criança que se movimenta muito, por exemplo. O movimento da criança mostra a nossa inércia. Por que nos irritamos? Será que é porque não podíamos fazer igual? Se você se irrita com a felicidade da criança, é porque está faltando alegria na sua vida”, rebate.

Tudo é um processo

A vontade é sair cantando que, “daqui pra frente, tudo vai ser diferente”. Mas isso não é verdade. Você provavelmente vai perder a paciência novamente. O importante é que esse não seja o modelo padrão de educação dentro de casa. Elisama tranquiliza: de vez em quando, todo mundo se exalta (mas lembre-se de que bater é contra a lei e pode gerar traumas importantes na criança, que perduram até a vida adulta).

A mudança para uma comunicação mais gentil é um processo longo. Você vai começar aprendendo a reconhecer o que a psicanalista chama de barulhos internos: “Se você está nervosa e seu chefe e sua mãe te dizem coisas que irritam, você fica com um barulho interno alto. E aí, quando a criança chama, você logo estoura, pois não cabe mais nada na cabeça”, explica. Mas já notou que, quando você está bem, o comportamento do outro não te afeta? 

“Educar não é simples, assim como qualquer relacionamento não é simples”, alerta. “Não tem fórmula mágica. Vamos aprendendo aos poucos, num caminho amoroso. Tem muita informação por aí. Pegue o que faz sentido para você e vá no seu ritmo. O que importa é se movimentar, pois é essencial criar gerações com mais amorosidade”, encerra.

Assista à segunda live do Conversa de Mãe com Chris Flores e Elisama Santos (@elisamasantosc):

O Conversa de Mãe acontece mensalmente no perfil da Brandili no Instagram (@brandilitextil). Acompanhe!

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Jefferson Back

Autor: Jefferson Back

Graduado em Publicidade e Propaganda pela Unisociesc Blumenau, atua no universo digital há quase dez anos. Pós-graduando em Neuromarketing e Brandsense pela Universidade do Vale do Itajaí (Univali), é fascinado pelo mundo da comunicação e comportamento humano.

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